Os versos que marcam o fim de cada parte são: "Morreu na construção atrapalhando o tráfego"," Morreu na construção atrapalhando o público" e " Morreu na contramão atrapalhando o sábado".
b) O que caracteriza as duas últimas partes?
As duas última partes caracterizam-se pela retomada da primeira, mas com alterações no final dos versos (é o que ocorreu, também, com o s versos finais de cada parte): o poeta muda as palavras de lugar, criando significados surpreendentes.
A terceira parte apresenta, ainda, um diferencial: é uma síntese das duas anteriores, que apresentam, cada uma, quatro estrofes de cada quatro versos; a última parte apresenta uma estrofe de seis versos.
2. Que palavras do texto indicam as ações do operário? A que situações ela se referem?
Amou, beijou: despedida dos seus, logo pela manhã, na ida para o trabalho.
atravessou, subiu, ergueu: seu trabalho na construção.
Sentou, comeu, bebeu, soluçou, organizou, morreu: o acidente, a morte.
3. Qual é a duração do tempo da narrativa? Os fatos narrados estão em que tempo verbal? O que isso significa?
Esses fatos ocorrem num dia de trabalho do operário personagem, de manhã até a hora do almoço, culminando com sua morte.
O narrador ofereceu-se a fatos passados, perfeitamente acabados. Os verbos utilizados estão todos no pretérito perfeito do indicativo.
4“Sentou pra descansar como fosse um sábado” /
“Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe” /
“Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago” /
Aos trechos destacados constituem comparações. Você pôde perceber que Chico Buarque utilizou muitas vezes esse recurso em seu texto. Interprete essas três comparações e explique o efeito produzido no texto.
A comparação nesse texto é um recurso que permite dimensionar as ações do operário, carregando-as de significado poético: a ação de "sentar para descansar" assume um significado mais amplo quando vem acompanhada da comparação como se fosse sábado
(a entrega total de quem vive uma situação-limite).
Dizer que alguém come feijão com arroz como se fosse um príncipe e descrever a refeição da perspectiva do operário e, ao mesmo tempo, com a ironia do poeta.O emprego de náufrago, enfim, da a perfeita dimensão do trágico na vida do operário.
5. É possível dizer que, logo no início do poema, há uma tragédia anunciada? Justifique.
Sim; os três primeiros versos são um prenúncio de tragédia: as ações do operário tem a intensidade de quem as pratica pela última vez.
6. A repetição de ações diárias e sempre iguais mostra uma face do drama do operário. Copie o verso que comprova essa afirmação.
" Subiu a construção como se fosse máquina."
7.O operário é visto e caracterizado por suas ações. Completando essa caracterização, observe que há na primeira parte do poema, apenas duas referências físicas relativas ao operário.
a) Copie os versos em que elas ocorrem.
" E atravessou a rua com seu passo tímido" e " Seus olhos embotados de cimentos e lágrimas."
b) Que características são expressas nesses versos?
Timidez e sofrimento. Destacar que o adjetivo tímido é atribuído a passo, quando na realidade refere-se a operário.
8. O verso “Seus olhos embotados de cimento de lágrima” lembra o quê? Interprete esses versos.
Resposta pessoal: A expressão "cimento e lágrima" lembra cimento e água, os elementos que entram na composição da argamassa utilizada pelos operários da construção civil. O embotamento é causado pelo que vem de fora (o cimento) e pelo que vem de dentro (a lágrima, expressão de sofrimento).
9. “Tropeçou no céu como fosse um bêbado/ E flutuou no ar como fosse um pássaro”. Embora esses versos marquem o momento da tragédia, eles descrevem-na com extrema sensibilidade, criando um clima poético. Indique os recursos empregados para isso ocorrer.
Foram criadas imagens poéticas (" Tropeçou no céu"; " flutuou no ar como s fosse um pássaro") capazes de suavizar o momento trágico. Paradoxalmente, as sugestões de liberdade da proximidade do céu, pela imagem do pássaro e pelo ato de flutuar.
10. Mudar as palavras de lugar na segunda parte cria significados novos e complementares na interpretação do poema inteiro.
a) Então, copie alguns versos que chamaram sua atenção nessa segunda parte e interprete-os.
Resposta pessoal: Professor: a leitura das respostas é importante pois permite a elaboração de um conjunto interpretativo a partir de respostas individuais e parciais.
b) Pensando no título “Construção”, além do significado inicial que se refere à construção de um prédio, de uma casa, é possível dizer que palavra, que há outra construção? Explique.
As respostas são habitualmente utilizadas, como tijolos numa construção, a fim de construir todo universo de sofrimento e absurdo na vida de um operário.O poeta constrói o poema, palavra por palavra, verso por verso.
Fonte: Adaptado do livro didático do Seed/PR
Interpretação crítica
1. Você sabe o valor do salário mínimo?
2. Procure informa-se sobre um operário em construção:
a) quanto ganha?
b) quantas horas diárias trabalha?
c) quais os descontos obrigatórios sofre um operário em seu salário?
d) Um operário de construção tem condições de ter uma casa própria?
Texto 2
1. Leia o texto a seguir e conclua-o usando sua imaginação.
Porque despedi minha secretária, de Stanislaw Ponte Preta
Era meu 45º aniversário e eu não estava lá essas coisas naquela manhã. Dirigi-me à copa para o café, na expectativa de que minha mulher alegre, diria: “Feliz aniversário, querido!” Porém, ela nem ao menos disse bom dia. Pensei: “Essa é a mulher que você merece.” Imaginei que certamente as crianças lembrariam, porém chegaram para o café e não disseram uma palavra.
Já estava bastante desanimado, mas eu senti um pouco melhor quando entrei no meu escritório e Janete, a secretária disse: “Bom dia chefe, feliz aniversário!” Finalmente alguém havia se lembrado. Trabalhei até o meio dia, quando Janete entrou em minha sala dizendo: “Poderíamos almoçar juntos, só o senhor e eu.” Fomos a um lugar bastante reservado, no campo. Nós divertimos muito e no caminho de volta ela sugeriu: “Chefe, com esse lindo dia, acho que não devemos voltar ao escritório. Vamos até meu apartamento e lá tomaremos um drinque.” Dirigi-me, então, para o escritório dela e enquanto eu saboreava um Martini, ela disse: “Chefe, se não se importa eu vou até seu quarto vestir uma roupa mais confortável.” “Tudo bem.”- respondi. “Fique à vontade.”
Vamos recortar essa parte:
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Decorridos mais ou menos 6 minutos ela saiu do quarto carregando um bolo enorme, seguida pela minha mulher e meus filhos, todos cantando “parabéns a você.” E lá estava eu, sentado na sala, sem nada além das minhas meias.
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2. Leia o texto Preto e Branco, de Fernando Sabino e responda as questões.
texto 3
Preto e Branco
Perdera o emprego, chegara a passar fome, sem que ninguém soubesse: por constrangimento, afastara-se da roda boêmia que antes costumava frequentar escritores, jornalistas, um sambista de cor que vinha a ser o seu mais velho companheiro de noitadas.
De repente, a salvação lhe apareceu na forma de americano, que lhe oferecia emprego numa agência. Agarrou-se com unhas e dentes à oportunidade, vale dizer, ao americano, para garantir a sua função ou uma relativa estabilidade.
E um belo dia, seguindo com o chefe pela Rua México, já distraído de seus passos tropeços, mas tropeçando obstinadamente no inglês com quem se entendia – quando do outro lado da rua viu um preto agitar a mão para ele.
Era o sambista, seu amigo.
Ocorreu-lhe desde logo que ao americano poderia parecer estranha tal amizade, e mais ainda: incompatível com a ética ianque a ser mantidas nas funções que passará a exercer. Lembrou-se num átimo que o americano em geral tem uma coisa muito séria chamada preconceito racial e seu critério de julgamento da capacidade funcional dos subordinados talvez se deixasse influir por essa odiosa deformação. Por via das dúvidas, correspondeu ao cumprimento de seu amigo da maneira mais discreta que lhe foi possível, mas viu um pânico que ele atravessava a rua e vinha em sua direção, sorriso aberto e braços prontos para um abraço.
Pensou rapidamente em se esquivar-se, mas não dava tempo: o americano também se detivera, vendo o preto se aproximar-se. Era seu amigo, velho companheiro, um bom sujeito, dos melhores mesmo que já o conhecera- acaso jamais sequer a se lembrar que se tratava de um preto? Agora, o gringo ali ao seu lado. Todo branco e sardento, é que percebia pela primeira vez: não podia ser mais preto. Sendo assim, tivesse paciência: mais tarde lhe explicava tudo, haveria de compreender. Passar fome era bonito nos romances de Knut Hamsun, lidos depois do jantar, lidos depois do jantar e sem credores à porta. Não teve mais dúvidas: virou a cara quando o outro se aproximou e fingiu que não o via que era com ele.
E não era com ele mesmo.
Por que antes de cumprimentá-lo, talvez ainda sem tê-lo visto, o sambista abriu os braços para acolher o americano – também seu amigo.
Fonte: