Tantos doces mandais a uma formiga,
Que esperais vós agora que eu vos diga
Se não forem murchíssimas doçuras?
Eu esperei de Amor outras venturas,
Mas ei-lo vai, tudo o que é dar obriga,
Ou já ceia de amor, ou já da figa,
Da vossa mão são tudo ambrósias puras.
O vosso doce a todos diz: comei-me,
De cheiroso, perfeito e asseado;
Eu por gosto lhe dar comi e fartei-me.
Em este se acabando irá recado,
E se vos parecer glutão, sofrei-me
Enquanto vos não peço outro bocado.
Em três partes enterrado
está o corpo do Marquês
de Marialva: porque em dez
mil seu nome é venerado:
e foi destino acertado,
que em tanta parte estivesse,
para que o mundo soubesse,
que este valeroso Marte
morto assiste em qualquer parte,
como se ainda vivesse.
V ês esse Sol de luzes coroado?
Em pérolas a Aurora convertida?
Vês a Lua de estrelas guarnecida?
Vês o Céu de Planetas adorado?
O Céu deixemos; vês naquele prado
A Rosa com razão desvanecida?
A Açucena por alva presumida?
O Cravo por galã lisonjeado?
Deixa o prado; vem cá, minha adorada,
Vês de esse mar a esfera cristalina
Em sucessivo aljôfar desatada?
Parece aos olhos ser de prata fina?
Vês tudo isto bem? Pois tudo é nada
À vista do teu rosto, Caterina.
Esse farol do céu, fímbria luzida,
Esse lenho das ondas, pompa inchada,
Essa flor da manhã, delicia amada,
Esse tronco de abril, galha florida,
É desmaio da noite escurecida,
É destroço da penha retirada,
É lastima da tarde abreviada,
É despojo da chama enfurecida.
Se o sol, se a nau, se a flor, se a planta toda
A ruína maior nunca se veda;
Se em seu mal a fortuna sempre roda;
Se alguém das vaidades não se arreda,
Há de ver (se nas pompas mais se engoda),
Do sol, da nau, da flor, da planta, a queda .
Disponível em: http://www.vestibular1.com.br/resumos_livros/poemas_de_gregorio_matos.htm e acesso em 16 jan. 2011.
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