A mais antiga teve sua composição iniciada em 1924; a maior parte, porém, foi concebida e finalizada nos últimos dez anos da vida do escritor. Ao contrário do que se poderia esperar, o estilo dos contos reflete pouca influência da literatura da segunda geração modernista, a que se projetou a partir da década de 30 e que é considerada mais madura e refletida. Os Contos Novos se ligam ao espírito da primeira fase do Modernismo, à experimentação que marca a Semana de 22 e, de certo modo, toda a obra de Mário de Andrade.
Os contos podem ser classificados em dois grandes grupos, segundo o seu foco narrativo. Os de primeira pessoa são quatro e têm como protagonista o próprio narrador, Juca. Eles se caracterizam pela introspecção e pela sondagem psicológica, de inspiração freudiana, que repassa momentos significativos da infância ("Tempo da Camisolinha"), adolescência ("Frederico Paciência") e maturidade do protagonista (caso de "O Peru de Natal", o conto mais célebre do livro, que trata do confronto de Juca com a imagem e a memória do pai morto e odiado). Há neles um fundo autobiográfico, sugerido pelo próprio Mário, que chega a se auto-referir no primeiro desses contos ("Vestida de Preto").
Os contos narrados em terceira pessoa combinam o lirismo e a investigação subjetiva com o engajamento social, que se faz bastante claro em "Primeiro de Maio", "O Ladrão" e "O Poço". Nesses casos, a inspiração de Mário é não só humanitária, mas também marxista, de denúncia da injustiça social e da patética alienação do trabalhador.
Uma exceção nesse grupo é "Atrás da Catedral de Ruão", conto que se concentra na linha psicológica e retrata o drama da virgindade de Mademoiselle, uma professora de francês de 43 anos. Mário usou no texto muitas expressões nesse idioma, que serve curiosamente como um código cifrado e disfarça, afinal, muito do pudor do escritor.
Os Contos Novos têm sido apreciados por razões diversas, que vão da facilidade de sua leitura, do realismo e da dicção coloquial das narrativas, ao interesse ou à simples curiosidade pela biografia e pelos processos de composição de Mário.
O conjunto dos contos é porém muito desigual, e eles não se incluem entre os melhores momentos da prosa do escritor, que estão em "Belazarte" e "Macunaíma". Na verdade, os Contos Novos parecem voltados à defesa de uma estranha tese.
O escritor afirmou, certa vez, que a psicologia de um homem simples, "do povo", era no fundo mais complexa do que a de um personagem de Proust, o grande autor de "Em Busca do Tempo Perdido". Apesar do empenho de Mário de Andrade, a demonstração literária de sua tese é bem pouco convincente.
Ficha
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá pessoal!
Agradeço seu comentário.
Volte sempre! Geisa
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.