LEITURA DE FÁBULAS LIVRO: “Fábulas Completas ESOPO
Neide Smolka (tradutora) Moderna
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
1- Comece o trabalho, perguntando aos alunos de quais fábulas se lembram.
Faça um levantamento daquelas que foram citadas pelos alunos.
2- Peça que os alunos recontem algumas das fábulas conhecidas por eles.
3-Faça uma reflexão com os alunos
sobre as características do gênero, a partir dos conhecimentos deles. É
provável que muitos digam que é uma história de animais que falam e que tem uma
moral.
4- Mostre a capa do livro e discuta se reconhecem qual a fábula famosa
que ilustra a mesma. É bem provável que os alunos se lembrem de que se trata da
fábula “A raposa e as uvas”. Peça para que os alunos recontem a fábula.
5 - Trabalhe com o sumário do livro:
a) Indicando que se trata de 358 fábulas selecionadas. Como o ano tem 365
dias, se algum leitor quiser, é possível ler uma fábula a cada dia do ano.
Ficam faltando apenas 7 dias, sem fábula;
b) Lendo alguns títulos do sumário do livro. Procure contemplar aqueles
que não trazem animais, como forma de problematizar uma possível informação dos
alunos a respeito do gênero textual. A tradutora do livro Neide Smolka
esclarece que
“A fábula veio do conto que, por sua vez,
existe desde que o homem começou a expressar-se através da fala. A diferença
entre eles não é que o conto relata fatos humanos e a fábula, pequenas
histórias de animais. Há muitos contos populares que falam de homens e animais,
enquanto a fábula, por sua vez, relata fatos acontecidos a deuses, homens,
animais e objetos em geral. “
6- Leia trechos da “Introdução” do
livro que trata do autor das fábulas, Esopo. Peça ainda que os alunos pesquisem
livros de fábulas de outros autores. Marque um dia para que os alunos tragam os
livros pesquisados, para lerem em classe. É desejável lembrar das obras de mais
dois grandes fabulistas: La
Fontaine e Lobato.
Selecione uma fábula do livro, indicando o (s) objetivo (s) de leitura,
como forma de ajudar os alunos a
focalizarem informações importantes para compreenderem o texto a ser lido.
Vamos exemplificar com “O rato do campo e o rato da cidade” (texto
integral no anexo 1). Leia a fábula para seus alunos. Oriente para que, durante
sua leitura, prestem atenção nas diferenças alimentares entre as vidas dos dois
ratos, não somente quanto “ao que comem”, mas “como comem”.
1- Peça a alguns alunos que recontem, oralmente ou por escrito, a fábula
lida. Sabemos que fazer paráfrase de texto lido é fundamental tanto para se
aprender a ler quanto aprender a escrever.
2- A partir do sumário do livro, solicite que os alunos levantem alguns
critérios de organização das fábulas. A tradutora do livro esclarece que
obedeceu à ordem alfabética das histórias em grego, mas é possível organizarmos
as fábulas de outra maneira, a partir dos títulos, usando, por exemplo, alguns
critérios, como:
a) Fábulas em que os deuses gregos são personagens: 18,44, 57, 72,
73, 76, 99, 108, 109, 110, 111, 112, 118, 119, 120, 121, 122, 123, 126, 146,
166, 210, 234, 236, 253, 260, 262, 291, 303, 319, 322 ( total: 31 fábulas) ;
b) Fábulas em que animais são personagens. Esta categoria é a mais
extensa no livro e pode ser subdividida, por exemplo, pelo número de vezes que determinado animal compõe os
títulos das fábulas:
- a raposa:
15 fábulas ( 29 a
43);
- o cão: 13
fábulas ( 175 a
187);
- o
leão/leoa: 20 fábulas ( 194
a 210);
- o lobo: 17
fábulas ( 215 a
231);
- o burro: 20
fábulas ( 262 a
281);
- a águia: 5
fábulas ( 3 a
7);
- o cavalo: 5
fábulas ( 138 a
142);
- a rã: 4
fábulas ( 66 a
69);
- o macaco: 4
fábulas ( 304 a
307);
- o corvo: 4
fábulas ( 165 a
168);
- a pulga: 3
fábulas ( 356 a
358).
(Total: 11 5 fábulas)
c) Fabulas cujos personagens principais são determinados profissionais:
- os
viajantes: 8 fábulas ( 254
a 261);
- o pastor: 8
fábulas ( 311 a
318);
- os
pescadores: 6 fábulas ( 22
a 27);
- o lavrador:
6 fábulas ( 81 a
86);
- o
caçador/criador de pássaros: 4 fábulas ( 282 a 285).
d) Fábulas com objetos como personagens: 232, 337, 354;
e) Fábulas em que elementos da vegetação são personagens: 101,
143, 152, 252, 323, 324.
OBS.: É possível elaborar uma “Atividade Permanente” que contemple as
leituras das fábulas por categoria.
3- Discuta com os alunos como a organização acima auxilia ou não na
conceituação do que seja uma fábula (rever o momento “Antes da leitura” em que
se discutiu esta questão).
4 – Proponha que os alunos leiam novamente o sumário e façam um
levantamento de títulos em que há palavras desconhecidas deles. Peça então que
leiam as referidas fábulas cujos títulos são formados com as palavras
desconhecidas, discutindo se:
- é
necessário mesmo uma pesquisa das palavras levantadas no dicionário?
Discuta quando esta busca pode ser fundamental para a compreensão do
título e da fábula em questão;
- é possível
inferir o sentido da palavra, a partir do texto da fábula? Sabemos
que muitas vezes, quando lemos, inferimos os sentidos de algumas palavras,
a partir de seus contextos, sem necessidade de ir ao dicionário.
5 - Selecione outra versão da mesma fábula lida “O rato do campo e o rato
da cidade” e peça a comparação entre as
duas versões. Vamos exemplificar, comparando com a versão de Lobato “ O rato da
cidade e o rato do campo”. (texto integral no anexo 2). Atenção que as
comparações estão em destaque no quadro a seguir.
Versão
de Esopo
|
Versão
de Lobato
|
1 -“O rato do campo e o rato da cidade”
|
1 - “O rato da cidade e o rato do campo”
|
A 1ª diferença está no título que sinaliza quem convida o outro para
comer.
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2 -A narrativa se inicia com o ratinho do campo convidando o da cidade
para comer em sua casa.
|
2 - A narrativa começa com o ratinho da cidade convidando o da roça
para o banquete.
|
Esta escolha assemelha-se à própria história da humanidade: a vida no
campo precedeu a vida na cidade.
|
O narrador defende a vida no campo e critica a vida na cidade.
|
3 -No campo, os dois ratos comem cevada e trigo apenas. O rato da
cidade considera que isso é comida de formiga.
|
3 -O rato do campo come grão de
milho.
|
A escolha alimentar é coerente com o contexto cultural. Cevada e trigo
para um fabulista grego (Esopo). Milho para um brasileiro (Lobato).
|
4 -Não há referência ao ambiente da casa, na versão de Esopo.
|
4- Na cidade, o rato da roça admirou o luxo do amigo: mesa feita de
tapete oriental, salão com quadros, estatuetas e grandes espelhos de moldura
dourada.
|
A
descrição da casa do rato da cidade potencializa as diferenças entre as vidas
dos dois compadres, como que espelhando as desigualdades sociais no país.
|
5 - Na cidade, o rato de casa mostrou as coisas boas que comia:
legumes, trigo, figos, queijo, mel e frutas.
|
5 - A comida era: queijo do reino, presunto, pão-de-ló, mãe-benta.
|
Novamente as diferenças alimentares estão afinadas com o contexto
cultural. Legumes, trigo, figos, queijo, mel e frutas na Grécia. Queijo do
reino, presunto, pão-de-ló e mãe-benta no Brasil.
|
6 - O rato do campo ficou admirado com a fartura de alimentos, elogiou
bastante o outro e foi se maldizendo por não ter sorte igual.
|
6 - Não há esta referência na versão de Lobato.
|
O foco da versa de Esopo é a admiração do rato do campo pela diferença
de alimentação. Na versão brasileira,
a admiração refere-se ao ambiente da casa do rato da cidade.
|
7 - Apesar da fartura, os dois ratos foram interrompidos, por duas
vezes e não puderam comer, muito menos saborear a comida.
|
7 - Começaram a comer, mas foram interrompidos por duas vezes. O rato
da cidade, quando ouvia barulho, fugia e deixava o outro sozinho.
|
Não chegaram nem a comer e foram interrompidos duas vezes.
|
Começaram a comer, mas o ratinho da cidade mostrou-se um medroso e
péssimo anfitrião, pois fugia a cada interrupção.
|
8 - O rato do campo despediu-se do outro, afirmando que ele come
demais, mas com perigo e muito medo. O rato do campo admite ser pobre, mas
vive sem medo e sem desconfiar de ninguém.
|
8 - O rato do campo acha que tudo é muito bom e bonito, mas não lhe
serve. Diz ser melhor o sossego da sua toca, roendo grão de milho.
|
As duas versões têm o mesmo desfecho: o rato do campo vai embora
afirmando que sua vida é melhor, por ser mais sossegada. A diferença está na
forma de apresentação do discurso direto: na versão de Esopo, ele vem com um
verbo do dizer (“disse”) e aspas; na de Lobato, há o uso do travessão.
|
9 - Há uma moral explícita e comentada, após a narrativa.
|
9 - Não há moral explícita.
|
O ensinamento da moral diz respeito à vida simples e pacífica, em
contraposição à vida rica, mas com medo.
|
Tia Nastácia viveu uma situação
semelhante à do rato do campo, quando em “Viagem ao Céu”, ficou na lua
cozinhando para São Jorge. Os rugidos
do dragão do santo assustavam-na, por
isto não via a hora de voltar para seu sossego, no sítio. Seu comentário após
a fábula faz as vezes da moral.
|
6- Discuta com os alunos de que maneira a fábula acima (nas
duas versões) relaciona pobreza e tranquilidade; riqueza e sofrimento ou
medo.Que visão de mundo essa associação pode revelar? Pergunte aos alunos se
eles concordam com essa visão de mundo, justificando suas opiniões. Sabemos que
ler é compreender o que está “entre as linhas ou por trás delas” (=inferência e
avaliação do que se lê) e não somente o
que “está na linha”(=decodificação
do que se lê).
7- Organize a turma em grupos e peça para cada um escolher uma outra
fábula. Depois de lerem e compreenderem a mesma, solicite que pesquisem outras
versões da fábula lida, para compararem.
8- Marque dias e horários para a
apresentação das comparações pelos grupos. Ao final das apresentações, retome
com os alunos as características do gênero textual: a função do gênero; a
extensão das fábulas; como são elaborados os títulos; as personagens típicas; como tempo e espaço
são apresentados.
Outras leituras
2.
“Fábula” da
coleção “Trabalhando com gêneros do
discurso: narrar” de Mônica Teresinha Ottoboni Sucar Fernandes – São Paulo:
FTD.
3.
Outras sugestões para a leitura de fábulas:
*
Fábulas de
La Fontaine
(vol. 1 e 2) – São Paulo: Landy;
*
Fábulas de
La Fontaine
(Tradução de Ferreira Gullar) – Rio
de Janeiro: Revan;
*
Fábulas de
La Fontaine,
com ilustração de Marc Chagall (Tradução de Mário Laranjeira)- São Paulo:
Estação Liberdade, 2004;
*
Fábulas
Fabulosas de Millôr Fernandes – Rio de Janeiro: Nórdica;
*
Novas
Fábulas Fabulosas de Millôr Fernandes – Rio de Janeiro: Nórdica;
*
100 Fábulas Fabulosas de Millôr Fernandes –
Rio de Janeiro: Record.
O rato do campo
e o rato da cidade
“Um rato do campo era amigo do
rato de casa. O de casa foi convidado, então, pelo amigo para irem comer nos
campos. Como comesse apenas cevada e trigo, disse o rato de casa: “Sabe, amigo,
tu levas uma vida de formiga. Pois, na verdade, minha vida é repleta de coisas
boas. Vem comigo e poderás usufruir de tudo”. Imediatamente os dois partiram. O
rato de casa mostrou legumes e trigo e ainda figos, queijo, mel e frutas. O
outro, admirado, o elogiava bastante e maldizia sua própria sorte. Quando iam
começar a comer, um homem repentinamente abriu a porta. Amedrontados e preocupados
com o barulho, precipitaram-se os ratos para as frestas. Quando iam de novo
pegar figos secos, outra pessoa apareceu para pegar alguma coisa ali dentro. Ao
vê-la, novamente precipitaram-se para dentro de um buraco. E o rato do campo,
esquecendo a fome, suspirou e disse ao outro: “Adeus para ti, amigo! Comes
demais, aproveitando com satisfação das coisas, mas com perigo e muito medo.
Quanto a mim, pobre, aproveitando-me da cevada e do trigo, viverei sem medo,
sem desconfiar de ninguém”.
A
fábula mostra que mais vale viver com simplicidade e ter uma existência
pacífica do que viver na fartura mas com medo de sofrer.
(Fábulas
Completas/Esopo: tradução de Neide Smolka.
2ª edição. São Paulo: Moderna, 2004. Coleção Travessias)
O rato da cidade e o rato do campo
“ Certo
ratinho da cidade resolveu banquetear um compadre que morava no mato. E
convidou-o para o festim, marcando lugar e hora.
Veio o
rato da roça, e logo de entrada muito se admirou do luxo de seu amigo. A mesa
era um tapete oriental, e os manjares eram coisa papa-fina: queijo do reino,
presunto, pão-de-ló, mãe-benta. Tudo isso dentro dum salão cheio de quadros,
estatuetas e grandes espelhos de moldura dourada.
Puseram-se
a comer.
No
melhor da festa, porém, ouviu-se um rumor na porta. Incontinenti o rato da
cidade fugiu para o seu buraco, deixando o convidado de boca aberta.
Não era
nada, e o rato fujão logo voltou e prosseguiu no jantar. Mas ressabiado, de
orelha em pé, atento aos mínimos rumores da casa.
Daí a
pouco, novo barulhinho na porta e nova fugida do ratinho.
O
compadre da roça franziu o nariz.
— Sabe
do que mais? Vou-me embora. Isto por aqui é muito bom e bonito mas não me
serve. Muito melhor roer o meu grão de milho no sossego da minha toca do que me
fartar de gulodices caras com o coração aos pinotes. Até logo.
E
foi-se.” (LOBATO, Monteiro. Obra Infantil Completa.
São Paulo: Brasiliense. s/d. Vol. 3)
Introdução
POR QUE INTRODUZIR VALORES HUMANOS ATRAVÉS DAS FÁBULAS?
“A história é capaz de transformar o abstrato em
concreto”
Os
valores humanos são uma energia que pulsa em todos os seres humanos. Estão
vivos e presentes no pensamento humano a todo momento, determinam o
comportamento e orientam a inteligência e a criatividade.
Eles
integram o conhecimento, a família, a escola e a vida em sociedade. Vinculam
o ensinamento ministrado na escola às circunstância da vida, construindo uma
consciência da ética e da estética do bem.
As
narrativas oferecem um manancial riquíssimo para aplacar nossa sede de
encontrar o ponto de coexistência das tensões positivas e negativas do
personalidade.
Segundo
Vânia Dohme, em seu livro Técnicas de Contar Historias, algumas indagações
podem ser feitas sobre quais valores gostaríamos de passar por meio de um
processo educacional, pois são eles que regem a conduta humana.
Quais
os valores que me impedem?
O
que é importante para mim como educador?
Quais
são adequados a uma criança?
Quais
deles eu gostaria de poder ajudar a construir?
Muitos
são os valores que podem ser trabalhados através das narrativas: amor,
caridade, prudência, justiça, honestidade, paciência, respeito,
responsabilidade, fortaleza e temperança...
Percebendo
que é impossível falar de Educação sem trabalhar valores com alunos através das
narrativas, notamos também que a vivência através dessa experiência aumentará
bastante a possibilidade de um melhor relacionamento social.
O
grande apóstolo Paulo nos exorta a ocupar-nos com tudo o que é verdadeiro,
honesto, nobre, justo, santo, puro, amável, honroso, virtuoso e assim o Deus da
paz será conosco.
Eis
aí o porquê de trabalharmos valores através das narrativas, especificamente
fábulas por serem curtas e bastante diretas para um mundo corrido como o nosso
e para caminharmos rumo à nossa humanidade e espiritualidade.
Resta-nos
mergulhar no mundo das fábulas para retirarmos delas subsídios virtuosos,
resgatando valores para que a educação seja realmente a arte de conhecer,
cuidar e criar. CONHECENDO UM POUCO MAIS SOBRE AS FÁBULAS
O que é e de onde vem a fábula?
FÁBULA = Pequena narrativa em que se aproveita a
ficção alegórica para sugerir uma verdade ou reflexão de ordem moral, com
intervenção de pessoa, animais e até entidades inanimadas. (Moderno Dicionário
de L. Portuguesa – Michaelis)
Características
das Fábulas
A
fábula trata de certas atitudes humanas, como a disputa entre fortes e fracos,
a esperteza, a ganância, a gratidão, o ser bondoso, o não ser tolo.
Muitas
vezes, no finalzinho das fábulas aparece uma frase destacada chamada de MORAL
DA HISTÓRIA, com provérbio ou não; outras vezes essa moral está implícita.
Não
há necessidade de descrever com muitos detalhes os personagens, pois o que
representam nas fábulas (qualidades, defeitos) já é bastante conhecido.
Tempo
indeterminado na história.
É
breve, pois a história é só um exemplo para o ensinamento ou o conselho que o
autor quer transmitir.
Conflito
entre querer / poder.
O
título não deve antecipar o assunto, pois não sobraria quase nada para contar.
A
resolução do problema deve combinar com a sua intenção ao contar a fábula e com
a moral da história.
DE ONDE VEM A FÁBULA? A FÁBULA, COMEÇO DE TUDO.
As
fábulas são tão antigas quanto as conversas dos homens, às vezes, nem sabemos
quem as criou, pois através da oralidade eram carregadas como vento de um lado
para outro, já que a própria palavra provém do latim FABULA = contar.
No
século VIII a.C. já se tinha notícias dessas histórias, sendo que as fábulas
muito antigas do Oriente foram difundidas na Grécia, há 2600 anos, por um
escravo chamado Esopo. Apesar de gago, corcunda, feio e miúdo, como diziam
alguns, era inteligente, esperto e de muito bom senso; por esse motivo,
conquistou a liberdade e viajou por muitas terras dando conselhos através das
fábulas.
Esopo
foi condenado à morte e jogado do alto de um abismo. O motivo foi a vingança do
povo de Delfos, mas as suas 600 fábulas continuaram a ser contadas, escritas e
reescritas por outros fabulistas. Fedro é o primeiro escritor latino a compor
uma coletânea de fábulas, tendo sido imitado e refundido várias vezes.
O
escritor francês Jean de La
Fountaine (século XVII – 1601 – 1700) usava fábula para
denunciar as misérias e as injustiças de sua época em versos e em prosa.
A
partir dessa época, muitas histórias escritas inicialmente para adultos já
começaram a ser adaptadas para crianças, retirando delas os elementos violentos
e os aspectos nocivos à educação. Mas a fábula moderna preserva todo o vigor
que vem apresentando desde os tempos antigos.
No
Brasil, temos o grande fabulista, Lobato. Além de recontar as fábulas de Esopo
e La Fountaine,
cria suas próprias fábulas com a turma do sítio, como mostra o seu livro
“Fábulas”, onde Pedrinho diz “As fábulas, mesmo quando não valem grande coisa,
têm um mérito: são curtinhas.” Narizinho acha as fábulas sabidíssimas e Emília
as considera uma indireta.
O
escritor brasileiro usou fábulas para criticar e denunciar as injustiças,
tiranias, mostrando às crianças a vida como ela é. Em suas fábulas, alerta que
o melhor é esperto (inteligente) porque o forte sempre vence e Visconde afirma
que o único meio de derrotar a força é a astúcia.
Até
hoje esse gênero narrativo existe e por ser curto, tem o poder de prender a
atenção, de entreter e deixar uma mensagem, um ensinamento.
Millôr
Fernandes, com seu humor e ironia, cria e recria fábulas refletindo valores e
antivalores, satirizando a nossa realidade sócio – política – econômica em seus
livros, “Fábulas fabulosas”, “Novas fábulas fabulosas” e “Eros uma vês”.
Outros
autores também vêm se dedicando ao gênero, como Carlos Eduardo Novaes, que, em
“A história de Cândido Urbano Urubu” retrata a realidade social brasileira;
Augusto Monterroso com “A ovelha negra e outras fábulas” e até mesmo Ulisses
Tavares com “Fábulas do futuro”. Versões de uma mesma fábula
A Cigarra e as Formigas
No inverno, as formigas estavam fazendo secar o grão
molhado, quando uma cigarra faminta lhes pediu algo para comer. As formigas lhe
disseram: “Por que, no verão, não reservaste também o teu alimento?” A cigarra
respondeu: “Não tinha tempo, pois cantava melodiosamente”. E as formigas,
rindo, disseram: “Pois bem, se cantavas no verão, dança agora no inverno.
A
fábula mostra que não se deve negligenciar em nenhum trabalho, para evitar
tristeza e perigos. Esopo: fábulas completas. Tradução de Neide Smolka. São
Paulo, Moderna, 1994
A Cigarra e a Formiga
Tendo a cigarra cantado todo o estio, achou-se em apuros
com a entrada do inverno. Não possuía nem um pedacinho de mosca, nem um
vermezinho para se alimentar. Desesperada, foi bater à porta da formiga sua
vizinha. Pediu que lhe emprestasse algum grão, a fim de poder subsistir até à
chegada do tempo melhor.
- Eu pagarei com juros, disse ela, antes de agosto.
Palavra de honra.
A formiga não gosta de dar emprestado, nem é prestimosa:
é esse o seu defeito.
- Que fazias no tempo de calor? - perguntou-lhe.
- Eu cantava noite e dia a todos que apareciam. -
respondeu a cigarra.
- Cantavas no verão? Que bela vida! Pois bem, dança
agora.
Muitos
são contra a formiga por ter procedido assim. Mas o Sr. La Fountaine certamente
explicaria que esse seu defeito é pequeno em face das virtudes, pois é
trabalhadeira, diligente e precavida. Já o não foi a cigarra, que nada fez
garantir os dias futuros. E lançou mão da mais simples das soluções: pedir
emprestado. A lição de La
Fountaine consiste em que devemos cuidar do dia de amanhã, e
não contar com empréstimo para cobrir o que não produzimos. Que cante a
cigarra, mas que trabalhe! Essa é a lição. Fábulas de La Fountaine – Tomo I
A Formiga Boa
- E que fez durante o bom tempo, que não construiu sua
casa?
A pobre cigarra, toda tremendo, respondeu depois de um
acesso de tosse.
- Eu cantava, bem sabe...
- Ah!...- exclamou a formiga recordando-se.
- Era você então quem cantava nessa árvore enquanto nós
labutávamos para encher as tulhas?
- Isso mesmo, era eu...
- Pois entre, amiguinha! Nunca poderemos esquecer as boas
horas que sua cantoria nos proporcionou. Aquele chiado nos distraía e aliviava
o trabalho. Dizíamos sempre: “que felicidade ter como vizinha tão cantora!”
Entre, amiga, que aqui terá cama e mesa durante todo o mau tempo.
A cigarra entrou, sarou da tosse e voltou a ser a alegre
cantora dos dias de sol Monteiro Lobato Fábulas. São Paulo, Melhoramento,1994
A Formiga Má
[...] a formiga era uma usuária sem estranhas. Além
disso, invejosa. Como não soubesse cantar, tinha ódio à cigarra por vê-la
querida de todos os seres.
- Que fazia você durante o bom tempo?
- Eu... eu cantava!...
- Cantava? Pois dance agora, vagabunda! ¾ e fechou-lhe a
porta no nariz: a cigarra ali morreu entanguidinha; e quando voltou a primavera
o mundo apresentava um aspecto mais triste. É que faltava na música do mundo o
som estridente daquela cigarra morta por causa da avareza da formiga. Mas se a
usurária morresse, quem daria pela falta dela?
Os artistas ¾ poetas, pintores, músicos ¾ são
as cigarras da humanidade. Monteiro Lobato. Fábulas. São Paulo,
Melhoramentos 1994.
A Cigarra e a Formiga
Tendo a cigarra em cantigas
Folgando todo o verão
Achou-se em penúria extrema
Na tormentosa estação.
Não lhe restando migalha
Que trincasse, a tagarela
Foi valer-se da formiga,
Que morava perto dela.
Rogou-lhe que lhe emprestasse,
Pois tinha riqueza e brio,
Algum grão com que manter-se
Até voltar o acesso estio.
A formiga nunca empresta,
Nunca dá, por isso junta.
No verão em que lidavas?”
À pedinte ela pergunta
Responde a outra “Eu cantava
Noite e dia, a toda a hora.
- Oh! Bravo! ¾ torna a formiga
- Cantavas? Pois dance agora”
(Bocage)
PERSONAGENS DAS FÁBULAS
A
grande maioria da fábulas têm animais como personagens, mas há fábulas em que
as comparações são feitas entre seres humanos e objetos ou plantas.
Normalmente,
as fábulas terminam com uma LIÇÃO DE MORAL. Sua função social é
preservar a MORAL dos povos.
Observe a presença marcante dos animais na Fábula de La Fontaine.
A rã e o boi
Uma rã viu um boi e
sentiu inveja de seu
belo
porte. Ela , que no total era menor do que um ovo, começou a se esticar e a
inchar, matirizando-se para ficar do tamanho do grande animal. E ia perguntando
a uma outra rã:
-
Olhe bem, minha irmã, e diga: já chegou? Já estou igual ao boi?
-
Que nada!
-
E agora, consegui?
-
De jeito nenhum!
-
E agora? Fiquei como ele?
-
Nem chegou perto!
E
assim o bichinho foi inchando... inchando...até que estourou.
O
mundo está cheio de pessoas tão insensatas como a rã: todo burguês planeja
construir um palácio, qualquer principezinho tem embaixadores, o marquês que
ter pajens como o rei.
O
apólogo é composto de duas partes, das quais uma pode chamar-se o corpo, a
outra a alma. O corpo é a fábula; a alma, é a moralidade. Aristóteles só
admite na fábula os animais; ele excluiu o homem e as plantas. Esta regra é
menos de necessidade que de conveniência, porque nem Esopo, nem Fedro, e nenhum
dos fabulistas a cumpriu. Quando à moralidade, ao contrário, nenhum deles a
dispensou.
Existem
fábulas que colocam como personagens, objetos, pessoas e plantas.
Marly Aparecida Garcia Souto, diretora do Departamento de
Cultura da Prefeitura Municipal de Araçatuba, professora de Português, . Membro
da Academia Araçatubense de Letras..
BIBLIOGRAFIA
·
Bodstein, Almir Jorge (1994) As Virtudes cristãs, Academia Araçatubense de
Letras SP
·
Cardoso, Manoel (1991) Estudos de Literatura Infantil, São Paulo, Editora do
Brasil
·
Dolme, Vânia (2000) Técnicas de contar histórias, São Paulo, Editora Informal
·
Fábulas de Esopo – Ed. Martins fontes – São Paulo 1997
·
Fábulas de La Fountaine
– Ed. Martins São Paulo 1997
·
Fernandes, Mônica Teresinha Ottoboni Sucar (2001) Fábula, São Paulo, FTD
Adaptação
de contos (1989), Manuais de Comunicação nº 10, São Paulo, Paulinas
·
Francia Alfonso, Oviedo Otila (1998), Educar através das fábulas, Paulus
(Portugal)
·
Marques, Ramiro (2001) O livro das virtudes de sempre, São Paulo. Ed. Landy
· Martinelli, Marilu (1999) Conversando sobre Educação
em Valores Humanos
2ª ed., São Paulo, Editora Fundação Peirópolis.
Mais leitura
A CIGARRA E A FORMIGA
A CIGARRA CANTAVA NO VERÃO, ENQUANTO A FORMIGA PASSAVA OS
DIAS GUARDANDO COMIDA PARA O INVERNO. QUANDO O INVERNO CHEGOU, A CIGARRA NÃO
TINHA O QUE COMER E FOI PROCURAR A VIZINHA FORMIGA.
- FORMIGA, POR FAVOR,
AJUDE-ME. NÃO TENHO O QUE COMER. A FORMIGA PERGUNTOU:
- QUE É QUE VOCÊ FAZIA NO VERÃO? NÃO GUARDOU NADA?
- NO VERÃO EU CANTAVA -
RESPONDEU A CIGARRA.
- AH, CANTAVA? POIS AGORA DANCE!
MORAL: DEVE-SE SEMPRE PENSAR NO DIA DE AMANHÃ
ESOPO
A CIGARRA
E A FORMIGA
Havia
uma jovem cigarra que costumava cantar perto de um formigueiro. Só parava
quando estava cansadinha e seu divertimento então era observar as formigas
trabalhando para armazenar comida.
Quando o verão acabou e veio o frio, todos os
animais, arrepiados, passavam os dias nas tocas.
A
cigarra, em seu galinho seco, quase morta de frio e fome, decidiu pedir ajuda
às formigas e, arrastando uma asa, lá se foi para o formigueiro. Bateu à porta
e apareceu uma formiga gorda, embrulhada em um xalinho.
- Que quer?- perguntou,
examinando a triste mendiga suja de lama e a tossir.
- Venho em busca de
ajuda, o mau tempo não pára e eu...
A formiga olhou-a a alto
e baixo.
- E o que fez durante o bom tempo, que não construiu sua casa?
A pobre cigarra, toda
tremendo, respondeu depois dum acesso de tosse:
- Bem, eu cantava, sabe...
- Ah!...- exclamou a formiga, recordando-se. – era você então
quem cantava, enquanto nós trabalhávamos para armazenar comida?
- Isso mesmo, era eu...
Pois entre, amiguinha!
Nunca poderemos esquecer as boas horas que o seu canto nos proporcionou. Você
nos distraía e aliviava o trabalho. Dizíamos sempre que era uma felicidade ter
como vizinha uma tão gentil cantora! Entre, amiga, que aqui você terá cama e
mesa durante todo o mau tempo.
A cigarra entrou, sarou
da tosse e voltou a ser a alegre cantora dos dias de sol.
Moral: os artistas (poetas, pintores, músicos)
são as cigarras da humanidade.
Monteiro
Lobato
A RAPOSA E
AS UVAS
UMA RAPOSA FAMINTA ENTROU
NUM TERRENO ONDE HAVIA UMA PARREIRA CARREGADA DE UVAS MADURAS.
A RAPOSA NÃO PODIA RESISTIR A TENTAÇÃO DE CHUPAR AQUELAS
UVAS.
MAS, POR MAIS QUE
PULASSE, NÃO CONSEGUIA PEGÁ-LA.
DEPOIS, CANSADA DE TANTO
PULAR, OLHOU PARA OS CACHOS DE UVA E DISSE:
- ESTÃO MESMO VERDES!
MORAL:
É FÁCIL DESPREZAR AQUILO QUE NO SE ALCANÇA!
O GALO E A RAPOSA
No meio dos galhos de
uma árvore bem alta um galo estava empoleirado e cantava a todo o volume. Sua
voz esganiçada ecoava na floresta. Ouvindo aquele som tão conhecido, uma raposa
que estava caçando se aproximou da árvore. Ao ver o galo lá no alto, a raposa começou
a imaginar algum jeito de fazer o outro descer. Com a voz mais boazinha do
mundo, cumprimentou o galo dizendo:
- Ó meu querido primo,
por acaso você ficou sabendo da proclamação de paz e harmonia universal entre
todos os tipos de bichos da terra, de água e do ar? Acabou essa história de
ficar tentando agarrar os outros para comê-los. Agora vai ser tudo na base do
amor e da amizade. Desça para a gente conversar com calma sobre as grandes
novidades!
O galo, que sabia que não dava para acreditar
em nada do que a raposa dizia, fingiu que estava vendo uma coisa lá longe.
Curiosa, a raposa quis saber o que ele estava olhando com ar tão preocupado.
- Bem – disse o galo –
acho que estou vendo uma matilha de cães ali adiante.
- Nesse caso é melhor eu
ir embora - disse a raposa.
- O que é isso, prima?-
disse o galo. - Por favor, não vá ainda!
Já estou descendo! Não vá
me dizer que está com medo dos cachorros nesses tempos de paz?!
- Não, não é medo -
disse a raposa-, mas... e se eles ainda não estiverem sabendo da proclamação?
Moral: cuidado com as amizades muito repentinas
(Fábulas de Esopo. Trad. Heloisa Jahn. São Paulo, Companhia das
Letrinhas, 199. p. 22.)
A Galinha e os Ovos de
Ouro, de Esopo Esopo
Um camponês e sua esposa possuíam
uma galinha, que todo dia, sem falta, botava um ovo de ouro.
Supondo que dentro dela deveria
haver uma grande quantidade de ouro, eles então a sacrificam, para enfim pegar
tudo de uma só vez.
Então, para surpresa dos dois,
viram que a ave, em nada era diferente das outras galinhas.
Assim, o casal de tolos, desejando enriquecer de uma só vez, acabam por perder
o ganho diário que já tinham assegurado.
Moral da História: Quem tudo quer, tudo perde.
1.
Os donos da Galinha eram pessoas ricas e poderosas?
2.
Que tipo de benefício proporcionava a Galinha todos os dias para
seus donos?
3.
Por que aquelas pessoas resolveram sacrificar a Galinha? Elas
lucraram com isso?
4.
Você é capaz de dizer qual o sentimento que serviu de
motivação para que sacrificassem o animal?
5.
Você seria capaz de descrever, com suas palavras, o significado da
Moral da Fábula?
A cigarra e as
formigas
Num belo dia de
inverno as formigas estavam tendo o maior trabalho para secar suas reservas de
trigo. Depois de uma chuvarada, os grãos tinham ficado completamente molhados.
De repente aparece uma cigarra:
- Por favor,
formiguinhas, me dêem um pouco de trigo! Estou com uma fome danada, acho que
vou morrer.
As formigas pararam de
trabalhar, coisa que era contra os princípios delas, e perguntaram:
- Mas por quê? O que
você fez durante o verão? Por acaso não se lembrou de guardar comida para o
inverno?
- Para falar a
verdade, não tive tempo – respondeu a cigarra. – Passei o verão cantando!
- Bom... Se você
passou o verão cantando, que tal passar o inverno dançando? – disseram as
formigas, e voltaram para o trabalho dando risada.
Moral: Os preguiçosos
colhem o que merecem.
Sugestões de leitura:
http://www.contandohistoria.com/fabulas.htm
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