Por
Rogério Hafez*
Especial para o Fovest
Contos
Novos reúne
nove curtas narrativas compostas ao longo da vida por Mário de Andrade
(1893-1945) e só publicadas postumamente.
A mais
antiga teve sua composição iniciada em 1924; a maior parte, porém, foi concebida
e finalizada nos últimos dez anos da vida do escritor. Ao contrário do que se
poderia esperar, o estilo dos contos reflete pouca influência da literatura da
segunda geração modernista, a que se projetou a partir da década de 30 e que é
considerada mais madura e refletida. Os Contos Novos se ligam ao espírito da
primeira fase do Modernismo, à experimentação que marca a Semana de 22 e, de
certo modo, toda a obra de Mário de Andrade.
Os contos
podem ser classificados em dois grandes grupos, segundo o seu foco narrativo.
Os de primeira pessoa são quatro e têm como protagonista o próprio narrador,
Juca. Eles se caracterizam pela introspecção e pela sondagem psicológica, de
inspiração freudiana, que repassa momentos significativos da infância
("Tempo da Camisolinha"), adolescência ("Frederico
Paciência") e maturidade do protagonista (caso de "O Peru de
Natal", o conto mais célebre do livro, que trata do confronto de Juca com
a imagem e a memória do pai morto e odiado). Há neles um fundo autobiográfico,
sugerido pelo próprio Mário, que chega a se auto-referir no primeiro desses
contos ("Vestida de Preto").
Os contos
narrados em terceira pessoa combinam o lirismo e a investigação subjetiva com o
engajamento social, que se faz bastante claro em "Primeiro de Maio",
"O Ladrão" e "O Poço". Nesses casos, a inspiração de Mário
é não só humanitária, mas também marxista, de denúncia da injustiça social e da
patética alienação do trabalhador.
Uma
exceção nesse grupo é "Atrás da Catedral de Ruão", conto que se
concentra na linha psicológica e retrata o drama da virgindade de Mademoiselle,
uma professora de francês de 43 anos. Mário usou no texto muitas expressões
nesse idioma, que serve curiosamente como um código cifrado e disfarça, afinal,
muito do pudor do escritor.
Os Contos
Novos têm sido apreciados por razões diversas, que vão da facilidade de sua
leitura, do realismo e da dicção coloquial das narrativas, ao interesse ou à
simples curiosidade pela biografia e pelos processos de composição de Mário.
O
conjunto dos contos é porém muito desigual, e eles não se incluem entre os
melhores momentos da prosa do escritor, que estão em "Belazarte" e
"Macunaíma". Na verdade, os Contos Novos parecem voltados à defesa de
uma estranha tese.
O
escritor afirmou, certa vez, que a psicologia de um homem simples, "do
povo", era no fundo mais complexa do que a de um personagem de Proust, o
grande autor de "Em Busca do Tempo Perdido". Apesar do empenho de
Mário de Andrade, a demonstração literária de sua tese é bem pouco convincente.
Ficha
·
Estilo: embora compostos pelo autor ao longo da vida e só
publicados postumamente, os Contos Novos remetem ao estilo experimental dos
primeiros tempos do Modernismo
·
Foco Narrativo: de primeira pessoa ("Vestida de Preto",
"O Peru de Natal", "Frederico Paciência" e "Tempo da
Camisolinha") e de terceira pessoa (nos demais contos).
·
Personagens: Juca (narrador-protagonista das narrativas de
primeira pessoa), 35 e 22 ("Primeiro de Maio"), Joaquim Prestes
("O Poço"), Mademoiselle ("Atrás da Catedral de Ruão")
*Rogério
Hafez é tradutor e assistente editorial
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