O romance romântico
aparece no Brasil como um gênero de fácil aceitação, principalmente para o
público burguês, abordando temas comuns da vida cotidiana. Sua produção
inicia-se apenas em meados do século XIX, a partir do contato com outras nações
decorrente do processo de independência, em 1822, quando países como França,
Inglaterra e Alemanha já tinham a tradição da ficção.
O romance pioneiro
surge dotado de algumas peculiaridades, como o episodismo (sobreposição dos episódios à análise dos fatos), o oralismo (o narrador é um contador de histórias), a linearidade (segue-se a ordem cronológica
normal dos fatos da vida), a idealização
(no ambiente, no enredo e nos personagens - homem, herói autêntico e
generoso e mulher, feminina, ingênua e fiel).
Inicialmente, não só
no Brasil, mas também na Europa, o romance apresenta-se na forma de flolhetins,
em publicações periódicas nos jornais de capítulos de obras literárias,
atraindo a leitura de mulheres, estudantes, comerciantes e funcionários
públicos. Estas publicações desapareceram no século XX, enquanto o romance em
si prosseguiu evoluído e se modificando ao longo dos tempos na literatura
nacional.
LINHAS TEMÁTICAS DO ROMANCE:
No Brasil, o romance
nasce em meio a uma busca pela identidade nacional e, mais do que a produção
poética, busca fornecer as respostas sobre as tradições, o passado histórico e
os costumes do país em uma verdadeira investigação sobre os espaços
nacionais. A identificação destes espaços caracteriza a formação de quatro
linhas temáticas: o espaço da selva é retratado pelos Romances Indianista e Histórico;
o campo aparece no Romance Regionalista;
a vida na cidade é trazida pelo Romance
Urbano. Vejamos cada uma destas linhas:
1. Romance Indianista:
Caracterizado pela
idealização do Índio, que não é visto em sua realidade sócio-antropológica, mas
sim de uma maneira lírica e poética, figurando como o protótipo de uma raça
ideal. Materializa-se no índio o “mito do bom selvagem” de Rousseau (o homem é
bom por natureza e o mundo é que o corrompe).
Há harmonização das
diferenças entre as culturas europeia e americana. O índio é mostrado em
diversas condições, como é possível notar nas obras de José de Alencar: em “Ubirajara”, aparece o índio
primordial, sem o contato urbano; em “O Guarani”, é mostrado o contato o
branco e em “Iracema”, aborda-se a miscigenação.
2. Romance Histórico:
Revela o resgate da
nacionalidade a partir da criação de uma visão poética e heróica das origens
nacionais. É comum ocorrer a mistura de mito e realidade. Destacam-se as obras ”As
Minas de Prata” e “A guerra dos Mascates”, de José de Alencar.
3. Romance Regionalista:
Também conhecido como
Sertanista, é marcado pela
idealização do homem do campo. O sertanejo é mostrado, não diante dos seus
verdadeiros conflitos, mas de uma maneira mitificada, como um protótipo de
bravura, honra e lealdade. Trata-se aqui de um regionalismo sem tensão crítica.
Destacam-se obras de José de Alencar (“O Sertanejo”, “O Tronco do
Ipê”, “Til”, “O Gaúcho”), Visconde de Taunay (“Inocência”),
Bernardo Guimarães (“O Garimpeiro”) e Franklin Távora, que com “O
Cabeleira” diferencia-se dos demais apresentando certa tensão social que
pode ser enquadrada como pré-realista.
4. Romance Social Urbano:
Retrata o ambiente da
aristocracia burguesa, seus hábitos e costumes refinados, seus padrões de
comportamento, sendo raro interesse pela periferia. Os enredos são em geral
triviais, tratando das tramas amorosas e mexericos da sociedade. Os perfis
femininos são temas comuns, como em “Diva”, “Lucíola” e “Senhora”,
de José de Alencar e em “Helena”, “A Mão e a Luva” e “Iaiá
Garcia”, de Machado de Assis.
É importante perceber
que alguns desses romances, tratando do ciclo social urbano, já revelavam
características realistas em seus enredos, como algumas análises psicológicas e
sintomas de degradação social.
LEIA MAIS!
No Brasil, há
uma urbanização do Rio de Janeiro, transformado em Corte, e cria-se uma
sociedade consumidora em busca de entretenimento. Busca da “cor local”, com o
espírito nacionalista em alta. Jornalismo tem grande impulso e surgem os
folhetins, acompanhados pela sociedade carioca, notadamente as mulheres, com
avidez.
Os romances
tematizavam a descrição dos costumes urbanos ou das amenidades das zonas rurais
e correspondiam às projeções dos conflitos emocionais dos leitores. Os
personagens são idealizados e com os quais os leitores, principalmente jovens e
mulheres, identificavam-se. Algumas obras fugiram um pouco desse esquema geral:
Memórias de um Sargento de Milícias e Inocência.
Temas da ficção
romântica
·
passadista e colonial - O Guarani e As Minas de
Prata de Alencar, As Mulheres de Mantilha e O Rio do Quarto de Macedo, Maurício
e O Bandido do Rio das Mortes de Guimarães...
·
indianista - Iracema e Ubirajara de Alencar, O
Índio Afonso de Guimarães
·
sertaneja - O Sertanejo e O Gaúcho de Alencar, O
Garimpeiro de Guimarães, Inocência de Taunay, O Cabeleira e o Matuto de Távora
·
urbanos ou de costumes - várias obras de Alencar
como as três mulheres: Diva, Lucíola e Senhora; além de Cinco Minutos, A
Viuvinha, Sonhos D’Ouro e Encarnação
·
documento do Rio do tempo de D. João - Memórias
de um sargento de Milícias
Autores
Joaquim Manuel
de Macedo
Atravessou todo
o movimento romântico e nota-se em sua obra um progresso na técnica literária.
Era o autor mais lido no Brasil até o final da década de 40 com O Guarani de
Alencar.
São temáticas
comuns ás suas obras: namoro difícil ou impossível, presença de jovens
casadoiras e estudantes, mistérios de identidade de personagens e identificação
final, conflito entre dever e paixão, alguma comicidade, espécie de documento
de costumes da época. A linguagem é simples com tramas fáceis, amor e mistério
culminando com um final feliz.
Obras:
·
Romance -
A
Moreninha (1844), O Moço Loiro (1845), Os Dois Amores (1848), Rosa (1849),
Vicentina (1853), O Forasteiro (1856), O Culto do Dever (1865), A Luneta Mágica
(1869), As Vítimas Algozes (1869), O Rio do Quarto (1869), As Mulheres de
mantilha 91870), A Namoradeira (1870).
·
Várias peças de teatro, a poesia A Nebulosa
(1857) e outros escritos
Manuel Antônio
de Almeida
Publica em
folhetins Memórias de um Sargento de Milícias, obra totalmente inovadora para a
sua época. Pode ser considerado o verdadeiro romance de costumes do Romantismo
brasileiro, por não estar vinculado à visão burguesa. Retrata o povo em toda a
sua simplicidade, malícia, humor e sátira. Sua descrição não se resume ao
ambiente, mas introduz juízos de valor e crítica. Apresenta um anti-herói
picaresco, que desde sua origem já está ligado ao real e ao humor. É
considerado por muitos como um precursor do Realismo. Caracterizam a obra o
estilo frouxo, linguagem por vezes até descuidada e um final feliz.
Obras:
José de Alencar
Consolidador do
romance, um ficcionista que cai no gosto popular. Sua obra é um retrato fiel de
suas posições políticas e sociais: grande proprietário rural, político
conservador, monarquista, escravocrata, burguês. Pode-se perceber o
medievalismo no personagem de O Guarani, Peri (bom selvagem) que deveria
respeitar a realidade social de que ao senhor de tudo deve-se obediência,
respeito e lealdade.
Defende o
“casamento” entre o nativo e o colonizador numa troca de favores (temática
presente em O Guarani - Ceci e família e Peri e em Iracema com Moacir, filho de
Iracema e Martim. Tudo isso traduzido numa linguagem coloquial, diálogos bem
feitos por sua formação de professor de Português.
Sua vasta obra
conta com romances urbanos, históricos, regionais e rurais, além dos
indianistas. Iracema é uma obra que denota as grandes características de
Alencar: paisagista e pintor de perfis femininos.
Obras:
·
Romances: Cinco Minutos (1856),
O Guarani (1857), Viuvinha (1860),
Lucíola (1862), As Minas de Prata (1862), Diva (1864),
Iracema (1865), O Gaúcho (1870), A Pata da Gazela (1870), O
Tronco do Ipê (1871), Sonhos D’Ouro (1872), Til (1872), Alfarrábios (1873), A
Guerra dos Mascates (1873), Ubirajara (1874), Senhora (1875), O Sertanejo
(1875), Encarnação (1893).
·
Algumas peças de teatro, crônicas e
autobiografia, crítica e a poesia inacabada O Filho de Tupã
Visconde de
Taunay
Autor de
Inocência, romance regionalista de tom sóbrio e detalhista quanto á paisagem.
Obra de pouca fantasia, mas com as relações entre paisagem e o meio bem
definidas. Alguns aproximam este romance de um estilo mais
realista-naturalista.
Obras:
·
Romance: A Mocidade de Trajano (1872), Lágrimas
do Coração (1873)
·
Narrativas: Histórias Brasileiras (1874)
·
Comédia: De mão à Boca se Perde a Sopa (1874)
·
Drama: Narrativas Militares. Cenas e Tipos
(1878), Quadros da natureza (1882), Fantasias (1882), Amélia Smith (1886)
Franklin Távora
Produz uma obra
regionalista num tom de manifesto, mas sem muita repercussão da temática
nordestina em O Cabeleira. Temática voltada para o banditismo como efeito da
miséria, latifúndio, secas e migrações.
Obras:
·
Contos - A Trindade maldita (1861)
·
Romance - Os Índios do Jaguaribe (1862), A Casa
de Palha (1866), O Cabeleira (1876), O Mulato (1878), Lourenço (1881)
·
Novela - Um Casamento no Arrebalde (1869)
Martins Pena
Ligado ao
teatro, inaugura a comédia de costumes com uma sutil sátira social. Por isso
sua obra foi aproximada de Memórias de um Sargento de Milícias. Autor com
profundo grau de observação, trazendo à cena personagens típicos da sociedade
da época.
Sinopse
Marco inicial =
A Moreninha de Joaquim Manuel de Macedo em 1844, apesar de não ter sido o
primeiro em publicação, mas sim em importância. O primeiro romance brasileiro
foi O Filho do Pescador de Teixeira de Sousa (1843), mas ele não possui as
linhas gerais dos romances românticos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Olá pessoal!
Agradeço seu comentário.
Volte sempre! Geisa
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.